quinta-feira, 16 de maio de 2013

O perdão é a casa da liberdade

de Israel Belo de Azevedo, em Prazer da Palavra

perdãokidsNós somos capazes de atitudes autodestrutivas
Nós as temos por acharmos que elas não nos destroem.
Nós somos capazes de produzir, guardar, acumular, sedimentar mágoas contra uma pessoa.
Este processo leva anos e, a cada dia, morde os nossos músculos, carcome os nossos corações e estiola as nossas almas.
O ódio entrou um dia lábios adentro, aninhou-se no nosso estômago e nós o alimentamos todos os dias. A palavra que nos feriu (mesmo que o nosso desafeto sequer tenha consciência que a proferiu) turbina a nossa memória e produz até lembranças de fatos que nunca existiram.
Queremos que a verdade, no caso a nossa verdade, venha à tona e mostre a nossa correção e a nossa bondade.
Então, a cada dia sorrimos menos.
A cada dia vivemos menos.
A cada dia abraçamos menos.
A cada dia são menores as chances de reconciliação.
Achamos que estamos vivendo, mas estamos morrendo.
Viver demanda coragem.
Coragem de perdoar.
Perdoar demanda coragem.
Coragem de perder.
Perdoar é perder para viver.
A morte mora na mágoa. A vida pulsa no perdão, a casa da liberdade.

domingo, 12 de maio de 2013

[NÃO] FAZENDO NAS COXAS

images (1)Em entrevista à rádio CBN, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, deu uma declaração franca sobre o estádio do Engenhão, interditado por motivo de risco à população: “Foi feito nas coxas”. Quer dizer, foi feito de qualquer jeito, sem capricho.

A expressão “fazer nas coxas”, diz-se, teria surgido na época da escravidão no Brasil. Os escravos doentes ou incapazes de trabalhos pesados eram designados para a tarefa de moldar em suas coxas o barro quente, que viraria telha. Porém, como cada escravo tinha a coxa de tamanho e formato diferente, as telhas saíam desiguais. Quando o telhado era montado, ficava torto, com a aparência de que tinha sido malfeito. Tinha sido feito nas coxas.

“Fazer nas coxas” é algo tipicamente humano. Queremos fazer várias coisas ao mesmo tempo, e não fazemos nenhuma direito. Confundimos agilidade com pressa, e derrapamos na precipitação. Queremos tudo, e temos pouco. Vivemos os dias pensando no amanhã, que talvez não venha, e descartamos o presente.

São decisões tomadas nas coxas, por parlamentares que faltam às sessões e decidem sobre projetos nacionais sem um mínimo de conhecimento da realidade. São discursos feitos nas coxas, altamente demagógicos, tão duráveis quanto um período de eleição e tão esquecidos quanto a memória do povo.

E ainda por cima nos espantamos com as manchetes dos jornais. Ficamos surpresos que existam líderes de igrejas acusados de pedofilia, de abuso sexual e lavagem de dinheiro. Multidões sendo enganadas por alguns autointitulados “ministros do evangelho”, com uma teologia feita nas coxas, sem substância, sem fundamento, sem profundidade, mas camuflada com discursos inflamados e retórica ilusionista.

Está na hora de dar um basta. Chega de fazer as coisas nas coxas.

Isso parece tão complexo, mas podemos começar com pequenas atitudes no dia-a-dia, como as que vi e ouvi dias atrás: um homem ajuntou cédulas de dinheiro caídas do bolso de uma jovem e devolveu para ela; outro devolveu à atendente do cartório o troco recebido a mais; um cidadão fez uma “vaquinha” entre amigos para ajudar uma pessoa carente; um motorista resolveu ser cortês com uma mãe que atravessava a rua com seu filhinho; outro se propôs a orar com alguém que descobriu uma enfermidade e terá de passar por tratamento cirúrgico; um menino resolveu repartir seu lanche e seu brinquedo com o colega, orientado por sua mãe; outra criança, à mesa, dirigiu uma oração de agradecimento a Deus pela saborosa refeição; uma professora alertava os pais sobre o comportamento do filho na escola; e um idoso senhor ainda orientou jovens a andarem com suas bicicletas pelas ruas, e não pelas calçadas.

São pequenas ações que, se não forem feitas nas coxas, evitarão que nossas vidas sejam um telhado com telhas desproporcionais, que não encaixam, deixam buracos e proporcionam goteiras em nossa cuca.

Nestas horas é bom lembrar ainda que Deus não fez nada nas coxas. Pelo contrário: Ele deu o seu melhor, em Seu Filho Jesus. E o que Ele prometeu aos que confiam no esplêndido e competente serviço feito por Jesus também não é nada feito nas coxas.

Esse amor vertical, quando vivido na horizontal, é tão caprichoso que não deixa espaço para fazer nada nas coxas.

P. Julio Jandat

Igreja Evangélica Reformada de Itararé

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Quando Deus Criou as Mães...

image001        No dia em que o bom Deus criou as mães
        (e já vinha virando o dia e noite há seis dias) um anjo apareceu e disse:
        - Por que tanta inquietação por causa dessa criação, Senhor?
        E o Senhor respondeu:
        - Você já leu as especificações desta encomenda? Ela tem que ser totalmente lavável, mas não pode ser de plástico; deve ter 180 partes móveis e substituíveis; funcionar à base de café e sobras de comida; ter um colo macio que sirva para matar a fome das crianças; um beijo que tenha o dom de curar qualquer coisa, desde perna quebrada até namoros terminados... e seis pares de mãos.
        O anjo balançou lento a cabeça e disse:
        - Seis pares, Senhor? Parece impossível!
        - Não é esse o problema, disse o Senhor. E os três pares de olhos que as mães tem que ter?
        E o anjo indagou: - O modelo padrão tem isso?
        O Senhor assentiu.
        - Um par para ver através de portas fechadas, para quando se perguntar, que é que as crianças estão fazendo lá dentro (embora já o saiba); outro par na parte posterior da cabeça, para ver o que não deveria mas precisa saber. E naturalmente os olhos normais, capazes de fitar uma criança em apuros e dizer-lhe: Eu te compreendo e te amo, sem proferir uma palavra.
        - Senhor, disse o anjo, tocando-Lhe levemente na manga, é hora de dormir. Amanhã é um novo dia...
        - Não posso, replicou Deus, está quase pronta. Já tenho um modelo que se cura sozinho quando adoece, consegue alimentar uma família de seis pessoas com meio quilo de carne moída e convence uma criança de nove anos a tomar banho.
        O anjo rodeou vagarosamente o modelo de mãe.
        - É muito delicada, suspirou.
        - Mas é resistente, respondeu o Senhor entusiasmado.
        - Você não imagina o que esta mãe pode fazer ou suportar.
        - E ela pensa? indagou o anjo.
        - Não apenas pensa, mas discute e faz acordos, explicou o criador.
        Finalmente, o anjo se curvou e passou os dedos pelo rosto do modelo de mãe.
        - Há um vazamento, retrucou.
        - Não é um vazamento, disse Deus, é uma lágrima.
        - E para que serve? indagou o anjo.
        - Para exprimir alegria, tristeza, desapontamento, dor, solidão, orgulho.
        - Vós sois um gênio, disse o anjo.
        Mas o Senhor ficou melancólico.
        - Isso apareceu assim, naturalmente; não fui eu quem colocou nela...

(Autor desconhecido)